sábado, 27 de outubro de 2007

Caminhos de humildade

No início da nossa consciência começamos por ser tudo e tudo nos estava subordinado.

Mas Copérnico roubou-nos o centro do universo e atirou-nos para a periferia, Darwin roubou-nos o lugar da criatura predilecta de Deus e remeteu-nos para descendente de um qualquer macaco, Freud roubou-nos o poder de decisão e remeteu-nos para a ditadura do inconsciente, Nietzsche deixou-nos órfãos de Deus e abandonados neste universo.

Somos uma humanidade em decadência? Talvez não, em todos parece-me ouvir as palavras de despojamento de Cristo: larga tudo, toma a tua cruz e segue-me.

Só um Deus que encarnou e se fez morrer na Cruz, assumindo em plenitude a sua fragilidade humana, pode ter estas palavras de vida eterna. A humanidade tem que fazer esse caminho, profetas, filósofos, pensadores, todos parecem assim indicar-nos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Um velho malfeitor

Uma antiga história dos monges do deserto fala de um velho malfeitor que se sentiu mal e, percebendo que estava a morrer, bateu à porta de um mosteiro.
“Deus terá misericórdia de mim”, disse o malfeitor ao monge que viera socorrê-lo. “Como podes estar assim tão certo?”, respondeu o monge. “Porque é o seu ofício”, replicou o malfeitor.

Moral da história: no Reino de Deus até um velho malfeitor pode fazer teologia… e dar-nos uma lição.
(Pe Amedeo Cencini, in O Pai Pródigo, ed. Paulinas)

É curioso que o pe Amedeo conte esta história exactamente na abertura de uma das suas conferências. O mistério de Deus revela-se a qualquer homem; e sendo assim, qualquer um nos pode brindar com elucubrações teológicas.

Esta história, apanhada ao acaso enquanto remexia nos meus livros, que mais do que ler, espalho abundantemente por todos os cantos, apanhou-me num momento de reflexão sobre este blog.

Serei eu um velho malfeitor, que atravessando um momento de deserto pessoal, tenta obter os cuidados de um monge?

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O servo cuida da árvore do seu Senhor.

O servo cuida da árvore do seu Senhor, mesmo que para isso use o mar como solo de plantio. E diz no fim: 'Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer.'


Na Igreja da Imaculada Conceição do XII bairro de Paris, após a bênção inicial um grupo de miúdos retira-se acompanhado pelas suas catequistas. Só regressariam no momento do ofertório, para assim, integrados na assembleia participarem na celebração eucarística.

No momento da comunhão dois acólitos empunhando cada um o seu castiçal com uma vela acesa, posicionam-se na entrada da igreja. Encabeçam assim uma procissão que culmina junto ao altar na comunhão, dando cumprimento ao texto, de que os últimos serão os primeiros.

No fim da celebração interrogo uma das catequistas. Sou então informado que numa das salas da sacristia funciona uma creche para os miúdos até aos 3 anos, permitindo aos pais estarem presentes na celebração. Nesta sala é-lhes proposto uma actividade com sentido catequético, que pode ser um desenho ou outra actividade lúdica.

Os mais velhos, durante a celebração da Palavra, retiram-se para outra sala, onde lhes é lido o Evangelho e feita uma homilia, adaptada ao seu nível de entendimento e sendo convidados também a participar. Um padre preside a esta cerimónia.

Uma vez por mês existe a missa da catequese onde estão todos presentes e a celebração é adaptada a essa circunstância.

É claro que nesta celebração a que assisti tínhamos três padres presentes. Mas talvez este cuidado, esta capacidade de inovar explique, como esta paróquia pode contar com três padres para celebrar a missa de Domingo. Esta é verdadeiramente uma paróquia vocacional.

O servo não reclama junto do seu Senhor para que lhe aumente a fé, o servo serve.

Também nós em Portugal devíamos de cuidar da árvore que nos é confiada, indo até ao meio do mar se tal for preciso...

www.immaculee-conception.net

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Este Deus que se transfigura...

Este Deus que por amor se fez homem e morreu na Cruz, só está verdadeiramente ao alcance dos poetas.