Eva tomou o fruto, “comeu dele e deu dele ao seu marido que estava junto dela e ele também comeu” (Gn 3,6).Tudo isto a uma velocidade arrepiante. A partir desse instante, já não é apenas o amor que reina entre eles, mas a conivência e a cumplicidade, ligações suspeitas que unem os malfeitores.
Lúcifer experimenta o maior prazer da sua carreira demoníaca, porque este momento contém o gérmen do mal que vai atacar o futuro. O diabo imagina com volúpia o passar dos séculos, os milhões de criaturas humanas parecidas com este casal que ele leva à perdição, que todos os dias comerão, devorarão, engolirão o fruto proibido. Vê estes milhões sempre à imagem, é claro, mas cada vez menos à semelhança de Deus, porque é a Lúcifer que se vão assemelhar os milhões de milhões que povoarão a Terra – e enquanto restar um pingo de semelhança, uma centelha divina nesta humanidade, Satanás não abandonará a sua presa.
“Os seus olhos abriram-se” (Gn 3,7) porque Lúcifer mantém sempre as suas promessas pelo menos em parte. Ele envolve a mentira em fragmentos de verdade, engana, mas não permanentemente.
Deus aproxima-se e o casal esconde-se.
Deus vem.
Os pés de Deus que caminha no Éden, os pés do Criador, que a pecadora banhará com as suas lágrimas, encherá de perfume e enxugará com os seus cabelos, estes pés de Filho ressuscitado que vai subir à direita do Pai, que as mulheres estreitarão: “Elas aproximaram-se, estreitaram-lhe os seus pés e prostraram-se perante ele” (Mt 28,9).
Deus que tudo sabe, incluindo onde eles se escondem, chama:
“Onde estás Adão?” (Gn 2,9)
Onde estamos nós, agora que chegou a nossa vez?
As mais belas histórias de amor da Bíblia Jacqueline Dauxois, Âmbar