quarta-feira, 27 de junho de 2007

Hiperliberdade

Se Deus se nos revelasse totalmente, se pudéssemos conhecê-lo plenamente, então não poderíamos deixar de o amar.

Afirma o padre Abbé Pierre. Com efeito se Deus se revelasse na sua plenitude, não precisaríamos mais de ter fé. Estaríamos “condenados” a amá-lo! Seria como se Deus satisfizesse uma necessidade pessoal: a de ter o nosso amor incondicional.

Mas escutemos ainda Abbé Pierre:

Foi por isso que Ele preferiu criar-nos, ocultando-se de nós. Não podemos conhecê-lo senão de modo indirecto. É esta parte de obscuridade que necessita da fé.
Toda a grandeza do homem é poder amar a Deus na fé, sem lhe tocar, sem o ver e sem o conhecer directamente. Então a sua liberdade é total.

A força que este Deus, que se deu a revelar, nos confere é esta lógica subtil, aparentemente frágil, mas tão consistente, que somos capazes de descortinar quando estudamos os assuntos do seu Mistério.
Fascínio máximo, por não ser estática e permanentemente se renovar em nós!


in Porquê, Meu Deus? Edições D. Quixote

domingo, 24 de junho de 2007

Uma força para além de todos nós....

Em Sesimbra, no Mosteiro das Monjas de Belém, da Assunção da Virgem e de S. Bruno, decorreu o encontro de encerramento das actividades da Escola da Fé do pólo Barreiro-Moita.

Alunos e professores reuniram-se na capela para rezarem as Vésperas com as monjas. Escutar as monjas cantar em coro as maravilhas de Deus foi uma experiência que nos marcou, pela sua beleza e pela sua espiritualidade.

Seguiu-se uma visita à exposição de artigos feitos pelas monjas e um pequeno lanche convívio.

Do acolhimento feito pelas monjas ficou-nos um vislumbre de quem se dedica a uma vida contemplativa. Toca-nos a felicidade com que partilham connosco o seu modo de vida, a sua vontade de chegar a todos os homens, em todos os locais, pela única forma possível: a força da oração.

Muitas das monjas vieram de profissões da área social ou da saúde, em que o foco era sempre o de servir os outros, ajudar os outros. Mas ficava sempre alguém por ajudar. Como chegar a todos? A nós humanos, Deus concedeu-nos um dom para isso: a oração.

Estas monjas dedicam a sua vida inteiramente à oração, são na terra, testemunhas vivas da presença gloriosa de Nossa Senhora no Céu.

sábado, 23 de junho de 2007

O pastor que perdeu as suas graças.

Há muitos, muitos anos, numa paróquia muito longe vivia um padre de idade madura, que não sabia o que lhe tinha acontecido.

Quando chegara aquela paróquia iluminara o seu rebanho com a Graça de Deus, e era um bom pastor.

Mas o tempo operou nele mudanças e o seu coração começou a fechar-se; empenhava-se nas coisas da paróquia, nas cerimónias, nos sacramentos… impunha a sua autoridade.

Mas o seu rebanho foi perdendo as ovelhas e só ficaram os carneiros, sobre os quais exercia a sua autoridade, com empenho, mas pobre na Graça de Deus que em tempos enchera em plenitude a sua alma.

Ao vazio que lhe consumia o coração e lhe atormentava a alma, tentava compensar com mais trabalho e oração. Temia expor-se, temia que o seu rebanho se assustasse se o visse vacilar, temia falhar e achava-se não ter esse direito.

Por vezes avançava como um turbilhão arrastando tudo e todos, levando atrás de si ressentimentos e sensibilidades feridas. Tentava alcançar o seu rebanho, cego a cada ovelha.

Queria partir para uma nova paróquia onde pudesse reencontrar a inocência dos tempos perdidos e voltar a ser o ministro consagrado pelo Espírito Santo, homem de Deus e da Igreja: o bom pastor.

Nos tempos, perdeu-se a memória do desfecho desta história; não sabemos se o padre partiu para uma nova paróquia ou se reconquistou o seu rebanho, sabe-se apenas que Deus o terá chamado de novo à sua graça, renovando-lhe a sua missão de pastor.

Dizem as lendas, que ainda hoje, aparece aos ministros nos seus momentos de fraqueza e de dúvidas e sobre eles volta a soprar a graça de Deus. A esses ministros apenas se lhes pede que abram os seus corações.

António , 2006.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Rezar em comunidade.

Hoje, ao fim da tarde, enquanto passeava sem destino pelas ruas de Ponta Delgada, neste meu (curto) desterro profissional, entrei numa Igreja. A celebração já ia a meio, deixei-me ficar… estas missas vespertinas primam por serem cerimónias curtas, mas esta foi feita em ritmo acelerado.

Pensei, que seria acima de tudo um momento para estar com Deus, na presença da Sua comunidade. Comunidade anónima e sem história, como sem história seria esta celebração, quando reparei nele.

Ali estava, cinco filas à minha esquerda, na sua figura enxuta e sempre impecavelmente bem vestido. Mota Amaral rezava comigo: somos todos anónimos peregrinos, unidos na nossa fé e nisso nada temos de anónimo, afinal somos o povo de Deus.

A sua presença fez-me pensar nisto tudo e deste pouco quis partilhar convosco.

domingo, 10 de junho de 2007

Levanta-te e ajuda o teu irmão.

A cada leitura da Palavra, esta renova-se em mim.

No meu post anterior alertava para o facto de passarmos por Cristo, sem O vermos por estarmos mortos para a vida, hoje o padre Zé Manel, a propósito desta passagem da viúva de Naim, alertava-nos para os que passam pela vida chorando e a lamentar-se, cegos na sua fé.

O padre Rodrigo ligou as duas viúvas, a de Sarepta e a de Naim, para concluir que a Igreja primitiva lançou as bases do estado social, através deste apoio às viúvas, que estava cargo dos Diáconos. Para nos dizer que as palavras de Cristo bem podiam ter sido: Levanta-te e cuida da tua mãe.

Levanta-te e cuida do teu irmão, escuto eu.

sábado, 9 de junho de 2007

O instante de Deus.

Deus criador de todas as coisas visíveis e invisíveis criou também o tempo, ao qual submeteu toda a Sua criação.

Naturalmente o Criador não se submete à obra criada, por isso para Ele o tempo não se desenrola de forma cronológica. Na dimensão de Deus, passado, presente e futuro acontecem no mesmo tempo, porque Deus não se lhes submete.

Por isso quando dizemos que o Cordeiro ofereceu o seu sacrifício para remissão dos nossos pecados, acreditamos que hoje como no passado ou no futuro cada pecado nosso acrescenta à dor de Cristo na Paixão. Por cada pecado nosso, acrescentamos mais uma chibatada no Corpo de Cristo.

Por isso podemos dizer que no dia do Juízo Final estaremos todos presentes, pois nesse dia entraremos numa dimensão que não é a nossa, onde toda a obra criada se submete no mesmo instante.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Testemunho de Vida

Este blog está condenado a não seguir o tempo litúrgico.

No Evangelho do (próximo) 10º Domingo, a morte e a vida cruzam-se num mesmo caminho. Não caminhavam ao encontro, apenas partilhavam a mesma estrada.

A morte, personificada no filho da viúva de Naim, cruza-se com o príncipe da vida Jesus Cristo.

“Jovem, Eu te ordeno: levanta-te”.

Quantas vezes estamos também nós como mortos para o príncipe da vida? Quantas vezes cruzamos com Ele inconscientes que Nele este jogo entre a vida e morte, triunfa sempre com a vida?

Se fossemos portadores desta lição, desta boa nova, caminharíamos pela estrada da vida mais atentos ao nosso irmão, mais cheios de vida.

Esse deveria ser o nosso testemunho.

domingo, 3 de junho de 2007

Partir, porque Ele espera por nós.

Hoje, na casa de Oração Santa Rafaela Maria, das escravas do Sagrado Coração de Jesus, a irmã Eduarda despediu-se na sua partida para Cuba.

Leva na bagagem o agradecimento a Deus e a confiança, e no coração um Cristo vivo para dar a conhecer.

Confiaram-lhe uma missão: que à sua chegada a Cuba se perca, porque quem se perde por Ele, há-de salvar-se.

Confiemos-Lhe pois as nossas orações, porque a vida do Cristão é de entrega e de partida porque Ele estará lá à nossa espera.


Depois de uma longa ausência, causada pela revolução, as Escravas do Sagrado Coração de Jesus regressam a Cuba.


Um curto intervalo ou uma longa ausência? Que sabemos nós dos tempos da Salvação?


Tenhamos nós a coragem e um coração generoso para partir em missão, como a irmã Eduarda.

E partilhemos esta intenção: que esta ordem continue a ter muitas e santas vocações.

sábado, 2 de junho de 2007

O tempo.

Deus é intemporal, a quem não se aplica o conceito de tempo. O tempo foi também ele obra criada, juntamente com todas as coisas visíveis e invisíveis.

Sem a Obra da Criação, Deus teria permanecido completo e perfeito, mas não se teria revelado. A criação é a revelação de Deus. Ou de outra forma: a Revelação de Deus começa na Criação.

No tempo que é o nosso, o das obras criadas, a ficção será sempre uma viagem ao futuro, pois só no fim dos tempos poderemos dizer o que realmente aconteceu.

A verdade é sempre uma viagem ao passado, porque sendo conhecida por Deus, a quem o tempo não se aplica, ela já estará registada, sem contudo ter sido predestinada.

O nosso limite é o tempo, neste mundo de coisas finitas, com princípio, meio e fim. Por isso só seremos salvos porque Deus se deu a revelar.