sábado, 24 de maio de 2008

Os símbolos do peregrino.

Nas festas da celebração da Palavra, surgem-nos invariavelmente como símbolos do peregrino - do caminhante evangelizador - as sandálias e o cajado, elementos indispensáveis ao caminhante da época de Cristo, e a rede de pesca, alegoria dessa missão: a de encher as redes do Senhor.

“O anjo ordenou: Cinge-te e calça as tuas sandálias. Ele assim o fez. O anjo acrescentou: Cobre-te com a tua capa e segue-me.” Act 12,8
Pedro calçou as suas sandálias quando o anjo do Senhor o libertou da prisão de Herodes, pois a sua missão na terra ainda não havia terminado. O peregrino é aquele que tem sempre as suas sandálias à mão e no coração o desejo de partir.

“Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar.” Lc 5,4
Pescadores de homens, eis o melhor destino a dar às nossas redes, aos nossos talentos, o de os colocar ao serviço da divulgação da Palavra do Senhor.

O cajado ou vara surgem no Novo Testamento associados à Paixão de Cristo:
“Cuspiam-lhe no rosto e, tomando da vara, davam-lhe golpes na cabeça.” Mt 27,30
“Os soldados encheram de vinagre uma esponja e, fixando-a numa vara de hissopo, chegaram-lhe à boca.” Jo 19, 29
Na missão que confia aos seus discípulos, Jesus Cristo alerta-os para as provas que terão de suportar:
“Cuidai-vos dos homens. Eles vos levarão aos seus tribunais e açoitar-vos-ão com varas nas suas sinagogas.” Mt 10, 17

Revisitemos, agora, estes mesmos símbolos no Antigo Testamento:

“…vendem o justo por dinheiro, e o pobre por um par de sandálias…” Am 2, 6
Nesta passagem do livro do profeta Amós as sandálias surgem-nos como símbolo da nossa caminhada em serviço dos mais necessitados, numa época em que, tal como hoje, a par de um certo progresso económico se acentuavam as desigualdades sociais.

Nesta passagem do profeta Jeremias:
“Lancei-te a rede e, sem o saberes, foste colhida de improviso, Babilónia.” Jr 50,24
A rede surge-nos aqui como símbolo dos justos, dos que estão atentos à vinda do Senhor, que não se faz anunciar, que nos apanha de improviso, estaremos nós à medida das malhas da Sua rede?

No livro do Êxodo, o Senhor diz a Moisés:
“Toma em tua mão esta vara, com a qual operarás prodígios”. Ex 4,17
O Senhor que enviou Moisés a libertar o seu povo, diz-nos que temos em nós os meios para levarmos a cabo as acções que nos libertam das nossas faltas, exorta-nos a tomarmos parte da nossa libertação. A operarmos prodígios.

Revisitar a Palavra do Senhor através destes símbolos é testemunho vivo da Sua misericórdia e do Seu anúncio. Sejamos pois esse pescador de homens, esse caminhante prevenido, evangelizadores vivos da Sua Palavra.

domingo, 18 de maio de 2008

Caminhando no meio de nós.

“… digne-se o Senhor de caminhar no meio de nós.” (Ex 34, 9)

O Senhor anunciou-se a Moisés misericordioso e clemente. E ditou-lhe instruções para guardar numa arca o Seu testemunho. O Senhor que veio caminhar no meio de nós.

E nós? Guardamos o nosso coração numa arca? Caminhamos no meio dos nossos irmãos? Ou encerramos o Seu testemunho em vaso de ouro?

domingo, 11 de maio de 2008

Estando fechadas as portas …

O medo encerra muitas portas atrás de nós. No cenáculo, ou no que hoje é a sua representação, fixei dois pormenores: o capitel, do tempo dos cruzados, com o símbolo da eucaristia (o pelicano alimentando os filhos a partir da sua própria carne), e um oratório de uma mesquita, que sobre este local também foi construída.

Construímos templos sobre os nossos locais de culto e também os construímos sobre os locais de culto dos outros.


Aqui no cenáculo é bom guardar a memória disso mesmo, recordando que a Sua mensagem está para além das portas fechadas e abre o coração aos homens. Na terra Santa existe esta disputa de templos Cristãos e Muçulmanos que se vão erguendo uns em cima dos outros, como degraus da escada de Jacob; apenas os Judeus parecem não ter esta fixação pelos locais de culto Cristãos, locais directamente associados a Cristo, e por onde não passou o profeta Maomé e são omissos no Antigo Testamento.

Talvez nós, os homens, precisemos dessa escada para como Jacob exclamarmos: “O Senhor está realmente neste lugar e eu não o sabia!” (Gn 28, 16)

Abram-se as portas.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Ide...


“Ide e fazei discípulos de todas as nações.” Mt 28, 19


A Via Sacra, pelo menos na versão Católica; a Ortodoxa segue outros caminhos; atravessa o mercado de Jerusalém, em pleno bairro muçulmano. No meio de gritos, de gente que passa, que fotografa, que vende e que compra, um grupo de peregrinos celebra a sua Via Sacra.
Pergunto-me se tal fará sentido, no meio de tanta confusão, onde eu próprio armado de fotógrafo me transformo em meio peregrino, meio turista… se é que existe tal coisa de se ser meio peregrino! Um dos que me acompanha, recorda-me que como Cristãos temos que mostrar a nossa presença e testemunhar (também ali) que dois mil anos atrás Ele sofreu aqui a Sua paixão. Existem muitas formas neste Ide, e por vezes é preciso regressar aonde tudo começou para levar o Seu testemunho, para que este se renove em nós e frutifique.