sexta-feira, 18 de julho de 2008

Uma prece atendida...

Não Lhe pedi nada e nada Lhe roguei. Seguramente também nada Lhe cobraria. Eis o balanço de um canto que nunca chegou a ser voz.

À minha mulher, que deixou no Muro das Lamentações uma prece, esta minha atitude sempre lhe causou alguma ansiedade. O de nada Lhe pedir. Mas Ele sabia que todo o meu coração era prece, voz em canto e ode de oração de súplica.
E elas chegaram, quatro bracinhos esticados a pedir carinho, a pedir colo, a pedir um pai e uma mãe. E pai e mãe somos, e elas a gastarem estas palavras, sem nunca se cansarem de repetir pai, mãe, pai, mãe… esgotando-as, até as encherem de todo um novo significado.

A mais velha, um feitio tão difícil de desembaraçar como os seus cabelos, uma pele cor de ouro velho, que até dá receio de polir, não vá o seu brilho cegar-nos, a mais nova, com a sua franja mal aparada e o seu sorriso maroto, tão persistente como a sua teimosia, encheram-nos a nossa casa, a nossa vida… e finalmente completaram-nos.

E tudo lhes é novidade, uma escada rolante um desafio difícil de ultrapassar, uma ida ao supermercado um acto de puro suicídio… e as pessoas a gabarem-nos a coragem, a generosidade, como se ser pai e ser mãe não fosse, simplesmente, um acto de amor!

São o milagre de uma prece atendida.

O brigado Senhor. Obrigado Pai. Tu sempre o soubeste…

(Obrigado também por elas dormirem… dá muito jeito!)