domingo, 10 de fevereiro de 2008

Uma questão de coragem

Quantas vezes não perdemos em clareza quando nos falta a coragem? Na segunda leitura de hoje (Rom 5, 12-19), nas sete vezes em que no original está a palavra todos, esta foi substituída pela palavra muitos. Perde o texto a sua força e fica prejudicado no seu sentido.
Pego apenas no último versículo: “ De facto, tal como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim também pela obediência de um só todos se hão-de tornar justos”.

A versão proposta pelo missal oficial, que continua a apregoar Cristo como o Redentor Universal, vem de uma forma mais suave contornar o facto de pelo púlpito oficial se apregoe a superioridade da nossa Igreja, a única que pode justificar todos os homens. O que convenhamos não deixa muito lugar ao diálogo inter-religioso.

Não vejo o que isto possa afectar as religiões não reveladas, que vêem na exclusividade imposta pelas igrejas Cristãs a maior dificuldade numa aproximação séria. Quanto às religiões reveladas, o Islão também aceita Abrão o que traz, impregnado em si mesmo, o pecado original. Sendo muitos os filhos de Abrão que não seguem Cristo, estariam todos então condenados por isso.

Brincamos assim ao jogo de palavras e ao politicamente correcto…mas não creio que a mensagem de Cristo ganhe em clareza!

7 comentários:

Fá menor disse...

Pertinente!

Anónimo disse...

Com toda a razão António. Jogo de palavras é uma coisa, brincar com a Palavra é sério.

E a sério também, é a missão que te passei e podes ler na capela, caso aceites, claro.

Abraço.

Fá menor disse...

Vá, António, que isto que a Malu te propõe também é uma questão de coragem!
Aceita, está bem! Rápido, corre...

joaquim disse...

Caro António

Não me parece que seja essa a intenção, mas sim ao referir-se "muitos", querer significar que nem todos se salvam, especialmente aqueles que não quiserem deliberadamente salvar-se.
Ou seja, ali o sentido de justos teria a ver com salvação, pois os justos com certeza se salvam.
Repara que é o Próprio Jesus Cristo que respondendo à pergunta sobre “quantos se salvam?”, nos responde não dizendo quantos, ou todos, mas sim aqueles que “quiserem” verdadeiramente.

Jesus percorria cidades e aldeias, ensinando e caminhando para Jerusalém. Disse-lhe alguém: «Senhor, são poucos os que se salvam?» Ele respondeu-lhes: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. Lc 13,22-24

O Catecismo da Igreja Católica diz-nos que há, aliás, salvação em certas condições mesmo para quem não está “na” Igreja.

“Significa que toda a salvação vem de Cristo-Cabeça por meio da Igreja, que é o seu corpo. Portanto não poderiam ser salvos os que, conhecendo a Igreja como fundada por Cristo e necessária à salvação, nela não entrassem e nela não perseverassem. Ao mesmo tempo, graças a Cristo e à sua Igreja, podem conseguir a salvação eterna todos os que, sem culpa própria, ignoram o Evangelho de Cristo e a sua Igreja mas procuram sinceramente Deus e, sob o influxo da graça, se esforçam por cumprir a sua vontade, conhecida através do que a consciência lhes dita.” Compêndio do CIC

Mas compreendo aquilo que dizes e também acho que às vezes é preciso a Igreja explicar um certo número de coisas para não terem sentido diverso daquele que lhe que dar.

Abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Ah, e já agora, continua lá a missão que a Malu te incumbiu, que também já passou por mim!

Abraço amigo em Cristo

antonio disse...

Joaquim, sendo todos nós filhos de Adão, carregamos o pecado original e Cristo, o novo Adão, veio para a Salvação de todos, mesmo dos que optem por Lhe dizer que não. Ninguém está excluído à partida.

A Sua mensagem é efectivamente para todos embora só muitos decidam segui-la...

joaquim disse...

Com certeza António, sem dúvida nenhuma!
Cristo veio para todos, mas nem todos serão justos no sentido da salvação, porque não O querem, porque O rejeitam.
Pelo pecado contra o Espírito Santo, como o próprio Cristo nos ensina.

Abraço amigo em Cristo